Sol garante 9% da luz mas custa o triplo da térmica
In "DNOTICIAS.pt":
O novo Parque Fotovoltaico do Porto Santo vai custar um milhão de euros/ano à EEM, permitindo a poupança de 360 mil euros de combustível.
A opção é do Governo da República que assume os custos e os respectivos incentivos. Mas a verdade é que produzir energia a partir do sol tem um custo 2,7 vezes superior há obtida a partir do combustível ou quatro vezes pelo vento, agravamento que só não se repercute no consumidor porque o Sistema Eléctrico Nacional assume esse agravamento através de um subsídio.
A inauguração de um grande parque fotovoltaico no Porto Santo levantou a questão. Porque viabiliza a Região a instalação de uma empresa que vai facturar um milhão de euros por ano a vender energia à Empresa de Electricidade da Madeira, quando esta apenas vai poupar 360 mil euros na importação de 900 toneladas de combustível? A resposta é dada pela aposta que Portugal fez nas energias renováveis, tendo criado um regime de remuneração da Produção em Regime Especial que compromete as distribuidoras a comprar a produção privada, a um o preço igual em todo o país.
Embora o preço médio mensal possa variar de acordo com o consumo, estando, ainda, indexado ao índice mensal do preços ao consumidor, o preço estimado de venda da produção fotovoltaica poderá atingir os 0,30 euros/kWh, valor que é quatro vezes mais caro que a eólica (0,075) e 172% superior à térmica (0,11).
É, justamente, por apresentar um preço de venda muito elevado, que encarece as tarifas de energia eléctrica, que as instalações deste tipo de tecnologia estão sujeitas a quotas nacionais, tendo sido atribuída à Região um limite de 17MW de potência a instalar.
Embora a opinião pública e os menos conhecedores reclamem o aproveitamento do sol para produzir energia, não é totalmente pacífico os efeitos da instalação do parque no Porto Santo. Porque este veio levantar problemas de incorporação que só a capacidade tecnológica e operacional da 'Eléctrica' madeirense permite ultrapassar.
Actualmente a produção de energia na chamada época de Inverno é assegurada por dois (durante o dia) ou três (noite) grupos geradores existentes na central do Porto Santo. Com a entrada em funcionamento do parque fotovoltaico, este pode garantir até 50% das necessidades da ilha nos períodos de menos procura, o que obriga a EEM a desligar uma das máquinas, deixando todo o sistema 'dependurado' numa só máquina.
A intermitência da produção sol causa um problema aos técnicos. A passagem de uma nuvem pode quebrar a produção em poucos segundos, o que obriga a que a reserva girante - potência que pode ser disponibilizada quase instantaneamente - tenha de ser sempre superior à componente de renováveis intermitentes expectável.
Com o sol a produzir muita energia, a EEM tem de desligar máquinas ou reduzir a produção das máquinas. O problema é que deve ser evitada a operação das máquinas abaixo de 40% da potência nominal, de forma prolongada, pois nestes casos deixa de ser possível usar o fuelóelo, tendo de se recorrer à produção a diesel, o que é ambientalmente gravoso.
Não se julgue, pois, que a fotovoltaica é panaceia para todos os problemas. Até porque que nas redes isoladas de pequena dimensão, como o Porto Santo, existem enormes constrangimentos que condicionam fortemente a penetração de energias renováveis, pelo que a fiabilidade e segurança do sistema tem de ser garantida por energia de origem térmica. O DIÁRIO sabe que a EEM tem vindo a realizar estudos de comportamento dinâmico no sentido de avaliar o comportamento dos dois sistemas da Região. No caso da ilha do Porto Santo, as conclusões preliminares indicam que o sistema é estável para a generalidade das perturbações com origem na produção. Mas que é sugerida a eventual utilização de um sistema de inércia, de modo a reforçar a estabilidade do sistema.
Recorde-se que no Porto Santo a contribuição média expectável com as eólicas existentes e o novo parque fotovoltaico rondará cerca de 14%. Mesmo reforçando a capacidade de integração de energias renováveis intermitentes, a sua contribuição média não deverá ultrapassar 20% das necessidades de consumo.
Refira-se. Por fim, que no curto prazo a EEM vai proceder à instalação de uma unidade de produção de biocombustível, a partir de algas marinhas, visando substituir o consumo de fuelóleo. A concretização deste investimento permitirá, em velocidade de cruzeiro, aumentar a penetração de energia 'verde' até cerca de 95% das necessidades de consumo.
Quatro grupos geradoresO sistema produtor é assegurado pela central térmica onde se encontram instalados 4 grupos geradores de 4,32 MW de potência unitária. Existem três aerogerdores, dois de 225 kW de potência unitária (EEM) e um terceiro de 660 kW(Enereem). Marginalmente há instalações de microprodução (fotovoltaica).
Vento já garante 5%
A produção líquida para a rede no Porto Santo foi de 36 GWh, com contributos da eólica (5,05%), fotovoltaica (0,02%) e térmica (94,93%). A produção registou o valor mínimo em Fevereiro (2,3 GWh) e valor máximo em Agosto (4,0 GWh). A potência mínima ocorreu em Fevereiro (2,5 MW ) e a máxima em Agosto ( 8,3 MW).
Sol vai produzir 9%
Estima-se que a produção do novo Parque Fotovoltaico do Porto Santo atinja cerca 3,4 GWh por ano. Considerando a produção líquida para a rede em 2009 (36 GWh), a energia produzida a partir do sol pode representar a satisfação de cerca de 9% dos consumos da ilha do Porto Santo.
95% de energia verde
A energia produzida pelo vento e pelo sol poderá aumentar a penetração das renováveis até os 14%, mas o grande objectivo do governo e em concreto da EEM é a produção de biocombustível, a partir de algas marinhas, o que vai garantir a penetração de 'energia verde' até cerca de 95% das necessidades de consumo.
50% da produção
O anún cio pomposo é da presidência do Governo Regional. Que o novo parque pode garantir a produção de 50% da energia fora do período de Verão. O que o anúncio não revela é que essa meta tem custos muito elevados e tecnicamente será muito complicado de aproveitar.
Indicadores
Empresa liderada por Marques Mendes
O Parque Fotovoltaico do Porto Santo, que amanhã é inaugurado, é uma iniciativa de Eneratlântica Energias SA, uma empresa detida maioritariamente pela Nutroton Energias SA, que é presidida pelo mediático Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD. Toda a tecnologia incorporada é da responsabilidade da EFACEC, empresa portuguesa líder de mercado à escala mundial.
Terreno no sopé do 'Bárbara Gomes' com 67 mil m2
O projecto foi desenvolvido numa área de terreno no sítio das Covas, no sopé do pico Bárbara Gomes, com 67.064m2 de área, dispondo o parque de uma área de estaleiro com outros 950 m2. A localização permite a exposição a sul e está protegida do vento predominante de NE.Foram instalados 11.592 painéis
Foram instalados 11.592 painéis, cada qual com uma potência de 205Wp. Deste modo o Parque Fotovoltaico do Porto Santo pode gerar 2,282 megawatts de energia ao longo de 365 dias do ano. A produção diária prevista da central é cerca de 9 MWh, mas num dia muito nublado cerca de metade. A produção desta energia limpa vai impedir a emissão poluente de cerca de 4 mil toneladas de CO2.10 milhões de euros por 25 anos
O investimento feito pela Eneratlântica ascende a 10 milhões de euros - financiados pelo Banif - tendo o parque um tempo de vida útil de 25 anos.
GOVERNO DEITA A MÃO, ALUGANDO TERRENO
Oficialmente os terrenos necessários à instalação do parque foram alugados. A mais de uma dúzia de proprietários. O que não foi público é que o Governo Regional alugou a maior parcela, tendo a Nutroton Energias comprado duas outras parcelas.
2.400 horas de sol por ano
A aposta da empresa é sustentada em vários estudos, com destaque para o facto da ilha registar valores de insolação muito elevados, da ordem das 2.400 horas/ano. O mês com maior insolação é Agosto(250 horas) e o menor Dezembro (130 horas). Quanto ao conforto térmico, este é caracterizado como óptimo entre Dezembro e Abril, moderadamente quente nos meses de Maio e Novembro e quente de Julho a Outubro.
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