Regimento de Infantaria envia em breve meia centena de homens para o Afeganistão
Quando se cruza a porta de armas do Regimento de Infantaria 14 (RI14), em Viseu, onde está sedeada uma das componentes da Brigada de Intervenção do Exército, percebe-se, na plenitude, a mudança que o ramo está a operar.
Os militares andam de camuflado, respira-se operacionalidade e modernidade. A doutrina mudou, o emprego de forças também e os equipamentos começam a ser de nova geração.
Num dos flancos do quartel, em obras, já está instalado o novo edifício do comando do 2º batalhão daquela brigada, que tem como principal encargo do RI14 a projecção de forças operacionais. Nos últimos dias, o regimento preparou um grupo de 56 militares que "estão de partida para o Afeganistão", contou ao DN o comandante do regimento, coronel Rui Moura.
Os elementos do chamado 4º módulo de apoio às Forças Nacionais Destacadas (FND) no Afeganistão irão ser "sombras. Cada um desses homens vai estar junto do seu homólogo afegão para assessorar o Estado-Maior de uma guarnição", sublinhou Rui Moura. Esse contingente é comandado pelo anterior 2º comandante do RI14, tenente-coronel Arnaldo Costeira.
O RI14 "tem uma componente operacional, dependente do Comando Operacional [do Exército], que é um encargo ao nível de batalhão do sistema de forças da Brigada de Intervenção", explicou o coronel Rui Moura. Este oficial, que nos últimos anos esteve destacado na divisão de operações do quartel-general supremo da NATO em Mons, Bélgica, referiu que "destacar forças nem é o mais complicado. A dificuldade está em garantir a logística de uma unidade destacada".
O oficial sabe do que fala, pois o RI14 esteve encarregue de sustentar 800 homens em armas estacionados em Timor durante mais de um ano.
Desde 1996 que os militares deste regimento sedeado em Viseu já deram várias voltas ao mundo: Kosovo, Bósnia, Timor, Líbano e, agora, Afeganistão. A sua próxima missão, em 2010, deverá passar pela integração numa das forças militares da UE - os chamados Grupos de Batalha (BG, sigla em inglês).
Mas, antes disso, é preciso treino e, de facto, as seis centenas de militares instalados no RI14 correspondem à afirmação do coronel: "Suor em instrução é suor poupado em combate." Talvez por isso, os homens andem sempre numa correria, entre os diversos cenários de treino e as missões que cumprem. E o conhecimento tem de ser partilhado. "O nosso batalhão, desde que chegou do Kosovo, tem participado como força de cenário nos exercícios" em que se simulam os teatros de operações reais, salientou o seu comandante, tenente-coronel Cunha Godinho.
Assim, adiantou, "conseguem transmitir os ensinamentos que recolheram nos vários teatros de operações por onde têm andado". Cunha Godinho interrompe o briefing, diário, com os oficiais do batalhão para explicar a nova doutrina: aqui "não há dois dias iguais". E, entre treinar "a instrução de combate", ao nível individual, e a integração de forças numa brigada dispersa pelo País, "todos os dias há treino", concluíu o tenente-coronel.
Com a chegada das novas viaturas blindadas Pandur, que mecanizaram a infantaria, o quotidiano do quartel reparte-se entre acções de planeamento e operações de manutenção. no outro.
O coronel Rui Moura diz que as viaturas - adquiridas para substituir as velhinhas Chaimite, do tempo da guerra colonial - "mudaram a doutrina do batalhão, que passou a ser mecanizado e capaz de dar mais protecção e mobilidade" aos militares. Para isso foi preciso "formar homens" e "criar infra-estruturas" adequadas. Por isso, o flanco sul do aquartelamento, com 57 anos, está agora em obras para acolher 70 novos veículos blindados de transporte de pessoal.
Nas garagens ainda estão seis Chaimites e, enquanto se espera pelo reforço das Pandur, o tempo é de "preparar o batalhão para a eventualidade de poder vir a integrar o battle group da União Europeia", observou o comandante do RI14. "Este grupo, em stand by, é o equivalente à Força de Reacção da NATO e estará pronto em 2010, para ser empregue onde o poder político decidir".
Ainda não é certo que assim seja, mas o treino vai mantendo operacional um regimento que foi obrigado a procurar, na região, outros locais de exercício - "mas tudo isto é treino", concluíu Rui Moura.