Natal na Madeira - A "Festa"
In "DNOTICIAS.pt":
Numa mesa madeirense de Natal não podem faltar a carne vinha- d'alhos, uma 'canjinha', o bolo de mel, as broas, as tangerinas, o licor...
Não estaremos a mentir se escrevermos que o Natal é uma quadra vivida de modo particular pelos madeirenses. A tal ponto que a expressão que habitualmente na Região designa esse período, 'Festa', é por de mais elucidativa.
Com efeito, desde os tempos remotos que as gentes madeirenses reservaram para o mês de Dezembro motivos suficientes para tornarem a celebração do nascimento de Jesus… uma verdadeira festa! Há toda uma envolvência que torna tais momentos muito particulares, começando na preparação para a grande ocasião, consubstanciada na existência das chamadas 'Missas do Parto', e prolongando-se até aos 'Reis' - 6 de Janeiro -, embora, aqui e acolá, sobretudo em tempos mais distantes, a 'Festa' só terminava como 'varrer dos armários', ou seja, em dia de Santo Amaro (15 de Janeiro).
Em termos religiosos, a Igreja Católica dedica no Natal um período preparatório designado por Advento. Este é um termo de origem profana como, de resto, algumas das tradições natalícias também o são. No Natal também há tradições… à mesa. Logicamente. A Madeira não foge à regra, bem antes pelo contrário. Algumas, até, para fazerem realçar a magnificência da quadra. Em várias publicações acerca da História da Região encontramos referências que indicam um cuidado especial nas ementas preparadas por alturas do Natal. Nalgumas situações, inclusive, reservando apenas para esse período iguarias diferentes e tidas de melhor qualidade, 'fugindo' à dieta pouco variada na restante parte do ano. A carne de porco é disso exemplo.
Longe - não tanto assim no tempo, atenção! - estamos desse tempo, do tempo em que o Funchal era invadido por pessoas que vinham de toda a ilha, pois só por altura do Natal é que tal acontecia. No entanto, continua a haver algum cuidado na preparação da Festa, existindo, ainda, a tendência para ser guardado 'algo de bom' - ou de melhor - para esta altura. Ou de diferente, por ser tradição.
A carne vinha-d'alhos - geralmente preparada da 'morte do porco' entretanto realizada -, o bolo de mel e o licor fazem parte da ementa em lugar destacado. O aproveitar da banha da carne para nela fritar o pão e os pedaços de laranja a 'enfeitarem' a travessa, ajudando ainda 'a fazer a digestão', completam uma 'mesa de Natal'. Isto no almoço de 25 de Dezembro pois para a consoada, logo após a Missa do Galo, uma 'canja' - caldo de galinha - é imprescindível… As broas, de mel, e não apenas, ajudam a adocicar, mas um bom licor faz isso e aquece igualmente! O vinho Madeira, ainda, não está mal pensado. Para acompanhar, também, o bolo de mel 'cortado à mão', se faz favor! E que até pode ser do ano anterior que está sempre bom… Ou, se calhar, até melhor daquele feito recentemente. Sem esquecer, ainda, o 'chocolate' para a manhã, por alturas de abrir os presentes deixados por um qualquer 'Pai Natal'… Se 'cada terra com seu uso…', a verdade é que no continente português e mesmo nos Açores a tradição natalícia 'à mesa' é, necessariamente, diferente. Para além de o 'tempo de vigência' do Natal ser bem menor do que acontece na Madeira - onde é a Festa por excelência -, com o 25 de Dezembro a pôr, lá, fim às celebrações, existem ainda 'motivos gastronómicos' que fazem a distinção. Desde logo pela 'obrigatoriedade' de haver bacalhau (com semilhas e muito azeite) na mesa da consoada. Mesmo assim, conquanto haja um traço comum, a ceia de Natal difere de terra para terra e, às vezes, até, de família para família. No entanto, sem carácter 'científico' nem desejo de exagero de pormenor, apresentamos um roteiro algo variado.
No Norte do país, por exemplo, o bacalhau cozido, couve, polvo com arroz, rabanadas, aletria, pinhões, figos, nozes são mais tradicionais. Já no Alentejo, a tendência vai, mais, para a carne de porco, arroz doce, filhós, sonhos, borrachões. Nos doces, no território continental há, ainda, a 'aposta forte' no bolo-rei, que na Madeira fica mais por altura dos 'Reis', como, de resto, respeita a sua origem.
Nos Açores, a consoada inclui canja, galinha assada recheada, alcatra, bolo de laranja, pão de fruta e bolos secos.
Enfim, aqui, ali e acolá, Natal é sempre Natal. Até porque, como diz o poeta, 'Natal é quando o Homem quiser'. E na Madeira, se nos permitem o sublinhado, é… uma festa! Ou melhor, 'A Festa'!....
Ver: A Festa
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