quinta-feira, 30 de julho de 2009

Reis de Espanha visitam a Madeira

In "DNOTICIAS.pt":

dn0401021001 Os Reis de Espanha deslocam-se hoje, pela primeira vez, à Madeira. A exemplo dos políticos, também quem estuda a História atribui a esta visita um sentido meramente económico, por se considerar que é "promoção para a Madeira de excepcional qualidade", conforme assume Rui Carita.


Já o embaixador de Espanha em Lisboa, classifica a visita oficial à Madeira de "um marco histórico", justamente pelo facto de ser "a primeira vez que os Reis de Espanha vêm à Ilha", contribuindo assim para "estreitar os laços" com Espanha. Alberto Navarro insiste no facto de se estar perante um "Rei que adora Portugal, fala português e que tem grandes laços de afinidade com este País", já que viveu e cresceu em Cascais.

 


Espetada e Vinho Madeira


Os aspectos da segurança foram acautelados com rigor, com diversas vistorias a espaços públicos. Mas o embaixador Navarro considera que não há razões para preocupação: "Estamos calmos porque a Madeira sempre acolheu bem os seus visitantes e saberá receber um Rei que tem uma relação muito especial com Portugal.".


Apesar da discrição com que a Casa Real Espanhola tem conduzido o assunto, com centralização das informações a partir de Madrid, o DIÁRIO sabe que a ementa a servir aos Reis, que se fazem acompanhar pelo Presidente da República Portuguesa e mulher, está a ser confeccionada pela Escola Hoteleira e privilegia os produtos gastronómicos regionais, de que é exemplo a espetada. Além disso, até os vinhos de mesa a servir nas recepções oficiais programadas para o Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira e Presidência do Governo Regional serão integralmente madeirenses.


A segurança é um aspecto crucial da visita e à sua conta têm sido desenvolvidas reuniões prévias de trabalho entre Portugal e Espanha. Na Região, a PSP, dadas as apertadas regras nesta matéria, não se abre a pormenores, informando que o trânsito automóvel estará condicionado amanhã nos pontos do roteiro da visita, nomeadamente junto ao Instituto do Vinho, Câmara Municipal do Funchal e Monte. Os mesmos condicionalismos voltarão a existir no sábado, já que Suas Altezas farão a visita ao Museu de Arte Sacra e Sé Catedral e terão a oportunidade de desfrutar de um curto passeio pelo 'coração' da urbe.


A melhor das promoções


Conforme esclarece o porta-voz do Comando Regional da PSP, comissário Roberto Fernandes, também os estacionamentos nos pontos de passagem da comitiva oficial serão interditos ao público. O trânsito automóvel que dá acesso às instituições públicas a visitar estará condicionado. Um grande dispositivo policial está mobilizado para garantir a segurança da visita de Suas Majestades.


As relações de Portugal com Castela perdem-se na História, ganhando especial enfoque os séculos XVI e XVII, altura da Dinastia Filipina. Hoje, confrontados com o sentido histórico da visita dos Reis de Espanha à Madeira, nomeadamente a obra que resultou do período Filipino, historiadores há que preferem não emitir opinião, remetendo para quem mais tem estudado a arquitectura militar madeirense que data desse período, Rui Carita. Ao DIÁRIO, este historiador esvazia de qualquer sentido histórico a deslocação, antes atribuindo-lhe uma dimensão económica importante. É que, segundo o historiador, a vida da Região gira em torno dos pólos turismo e lazer. Por isso, "Conseguir trazer à Madeira os Reis de Espanha, que são figuras de visibilidade internacional, é uma coroa de glória, porque dá tempo de antena à Ilha nos telejornais e nas revistas 'cor-de-rosa', logo é promoção para a Madeira de excepcional qualidade.".


Em termos de obra deixada pelos espanhóis à Madeira, nomeadamente durante a Dinastia Filipina, também Rui Carita esclarece que há visões diferentes da História. O investigador sustenta que é errado dizer-se que determinado monumento foi obra de Castela ou Filipe de Espanha. "O que é correcto dizer-se é que, durante a vigência da Dinastia Filipina, reformulou-se a Fortaleza de São Lourenço - só o baluarte virado para o turismo - fez-se a Fortaleza de São Tiago e construiu-se a Fortaleza do Pico segundo projectos anteriores. Nesse período, foi também construído o Palácio Episcopal, onde está hoje o Museu de Arte Sacra do Funchal.".


Rui Carita alude às citadas obras (vide destaques no rodapé da página), mas procura deixar bem claro que "não são os castelhanos a dinamizá-las mas a coroa portuguesa." Inclusive, "os dinheiros aplicados não são de Castela mas de Portugal." E questiona: "Alguém vê algum brasão castelhano nesses edifícios?" Esclarece ainda que "Filipe II de Espanha é que levou para Castela a organização militar portuguesa, porque estávamos mais avançados do que eles." Carita conclui dizendo que "não houve uma ocupação filipina mas uma coroa dual e da qual Portugal soube tirar um partido excepcional, especialmente no que ao ultramar refere, já que o Brasil cresceu 10 a 15 vezes mais em relação ao que era inicialmente.".


Legado histórico: Obras na Região da Dinastia Filipina


Fortaleza de São Lourenço
A Fortaleza de São Lourenço foi reformulada durante a Dinastia Filipina, segundo explica Rui Carita. É um conjunto arquitectónico que compreende a Fortaleza e o respectivo Palácio, sendo o melhor exemplar da arquitectura civil e militar da Madeira.


Fortaleza do Pico
A Fortaleza de São João Baptista do Pico, situada no Pico dos Frias, foi também erguida no longo período de união ibérica. É uma peça de arquitectura militar que integrou o sistema defensivo da cidade contra os ataques dos corsários e piratas.


Fortaleza de São Tiago
A Fortaleza de São Tiago, situada na Zona Velha da cidade, é outra construção executada durante o período castelhano, no início do século XVII. Hoje, integra o Museu de Arte Contemporânea da Cidade que tem para mostrar ao público uma vasta colecção de arte.


Palácio episcopal
Foi construído no século XVI e apresenta traços arquitectónicos maneiristas e barrocos. Sofreu obras de beneficiação e, na primeira metade do século XX, passou a ser o Museu de Arte Sacra do Funchal, a ser amanhã visitado pelos Reis de Espanha.

O rei que trouxe a democracia


A última vez que o vimos com insistência nas notícias foi em 2007 e o seu "porque não te calas?" dirigido a Hugo Chávez na Cimeira Ibero-Americana deu à volta ao Mundo, gerou polémica e foi tema de piadas e anedotas. Juan Carlos I de Espanha é, no entanto, muito mais do que este episódio. A sua vida confunde-se com a História recente espanhola e com a transição democrática.


A 22 de Novembro de 1975, quando foi proclamado rei, Juan Carlos era ainda uma incógnita. Olhado com esperança pelos franquistas e com frieza pelos sectores liberais que queriam, com a morte de Franco, o fim da ditadura. As expectativas eram naturais. O príncipe passara os últimos anos como protegido de Franco, aparentemente encaminhado para seguir os princípios do caudilho.


Num país com mágoas profundas deixadas pela Guerra Civil, o novo rei apostou na transição democrática e, em 1978, foi aprovada a actual Constituição espanhola, a que permitiu a democratização e o desenvolvimento que hoje tanto se cobiça a Espanha. E o monarca, que era a esperança dos franquistas, haveria de dar provas reais em defesa desta Constituição, mais precisamente a 23 de Fevereiro de 1981.


Nesse dia, um sector da Guardia Civil - comandado pelo tenente-coronel António Tejero - tomou o parlamento quando estavam reunidos os ministros e os deputados. O assalto foi dramático, ouviram-se disparos e, em pouco tempo, outras unidades sublevaram-se. Esperavam o apoio do rei, mas este recusou ficar do lado dos golpistas No dia seguinte ao golpe, vestido com a farda de comandante-chefe das Forças Armadas apareceu na televisão, numa mensagem emotiva, a chamar a ordem os generais revoltosos.


O golpe fracassou e, nesse mesmo dia, a popularidade do monarca disparou num país de fortes tradições republicanas. Tantas que ainda hoje muitos espanhóis se dizem republicanos e Juan Carlistas. Contra-senso? Pode parecer, mas há em relação ao rei gratidão e simpatia. Este homem, nascido em Itália em Janeiro de 1938, é um símbolo, a imagem da Espanha moderna. O percurso, no entanto, não foi fácil. A começar, nasceu no exílio, após a família ter fugido à agitação republicana dos anos 30. O pai, o Conde de Barcelona e herdeiro da coroa espanhola, andou de Itália para Portugal, onde Juan Carlos viveu até aos 10 anos.


Se não era bem visto pelos republicanos, Franco também não tinha grande confiança no Conde de Barcelona, via-o como um perigoso liberal. E, no jogo político, Juan Carlos foi a escolha do ditador, sendo designado herdeiro em 1969. Aos 31 anos, com a educação completa, já casado e pai de filhos (o rei tem três filhos Felipe, Elena e Cristina). O príncipe casara em 1962 em Atenas com Sofia, filha dos reis da Grécia. O casamento obrigou a futura rainha de Espanha a mudar de religião (deixou a Igreja Ortodoxa e converteu-se ao catolicismo) e a aprender uma nova língua. Factos que, hoje, estão quase esquecidos. O rei, a rainha, toda a família real são espanhóis, confundem-se com o país e fazem o melhor marketing pelo reino. Os casamentos e os nascimentos - os mais recentes das herdeiras (as filhas de Felipe e Letizia) - enchem as páginas das revistas da imprensa cor-de-rosa e a imaginação de muitos Mundo fora. Os vestidos, as roupas e as festas, mas também os supostos deslizes, a vida da família real é vista à lupa. E, de perto, por debaixo da elegância, a família parece-se muito com o povo. O herdeiro casou com uma jornalista e o marido da infanta Cristina jogou Andebol.


E Juan Carlos de Bórbon é cada vez mais um patriarca, o avô de vários netos, um homem de certa idade que se permite dizer a outro chefe de estado que se cale, que não esconde o seu gosto pelos desportos, sobretudo o esqui e a vela. Em novo, entrou nos Jogos Olímpicos de Munique e, 20 anos depois, foi um grande apoiante dos Jogos de Barcelona. Enfim, um rei, mas sobretudo um espanhol.


Programa da visita dos Reis de Espanha e do Presidente da República à região autónoma da Madeira


1º dia - Quinta-feira
18h10 - Chegada do Presidente da República e de Maria Cavaco Silva ao Aeroporto do Funchal. Aguardam e apresentam cumprimentos o representante da República na Madeira o presidente da Assembleia Regional e o presidente do Governo Regional.


18h30 - Chegada dos Reis de Espanha ao Aeroporto do Funchal. Honras militares, cerimónia Oficial de Boas-vindas e execução dos Hinos Nacionais. O Comandante das Forças em Parada convida o Presidente da República e o Rei de Espanha a efectuarem a Revista às Forças em Parada. Os Chefes de Estado detêm-se junto ao Estandarte Nacional. Saudação do Estandarte Nacional.
20h30 - Jantar oferecido pelo Presidente da República.


2º diA - Sexta-feira
11:00 Horas - O Rei de Espanha recebe, em audiência, o Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim.


11h55 - Câmara Municipal do Funchal, onde terá lugar a cerimónia de entrega da Medalha de Ouro da Cidade ao Rei de Espanha, com intervenções do presidente da autarquia e do Rei Juan Carlos.
13h - Cerimónia de Entronização na Confraria do Vinho da Madeira do Rei de Espanha e do Presidente da República Portuguesa. Leitura de breve biografia de Sua Majestade o Rei de Espanha.


Leitura do Juramento por Sua Majestade o Rei de Espanha. Aposição da Tomboladeira e entrega do Chapéu pelo Cancelário-Mor. Cerimónia de Entronização do Presidente da República. Leitura de breve biografia de Cavaco Silva. Aposição da Tomboladeira e entrega do Chapéu pelo Cancelário-Mor.


17h30 - Visita à Igreja de Nossa Senhora do Monte.
18h30 - Visita ao Cabo Girão.
21h - Jantar oferecido pelo presidente do Governo Regional.


3º dia - Sábado
10h45 - Reis de Espanha chegam à Praça do Município de onde se deslocam a pé até ao Museu de Arte Sacra, onde são aguardados pelo Bispo do Funchal e pela directora do Museu.
11h45 - Visita à Sé do Funchal.
12h - Pequeno passeio pela baixa do Funchal.


13h15 - Chegada ao Porto Santo.
13h45 - Cerimónia na Câmara Municipal do Porto Santo com assinatura do Livro de Honra.
14h15 - Visita ao Campo de Golfe, onde vai decorrer o almoço.

Actualização em 01-08-2009:

Rei de Espanha espera voltar à Madeira:

O Rei de Espanha, Juan Carlo, gostou tanto da visita oficial de três dias que fez à Região Autónoma da Madeira que, ainda antes de partir, mostrou o desejo de regressar.

'Há muitos anos que queria vir à Madeira', confessou o monarca espanhol, à saída de um almoço na ilha de Porto Santo, acrescentando que quer regressar. 'Gostei muito e espero voltar', afirmou, sublinhando que 'a amizade tão grande que há entre Portugal e Espanha'.img_detalhe_noticia_pt_1

Do lado português, o Presidente da República, Cavaco Silva, que foi um dos anfitriões dos monarcas espanhóis, qualificou a visita como 'histórica' e 'mais um sinal da grande estima e carinho que Suas Majestades têm por Portugal e pelos portugueses'.

Os Reis de Espanha despediram-se este sábado do arquipélago da Madeira, com uma passagem de poucas horas por Porto Santo.

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Chegada do Presidente da República e dos Reis de Espanha à Região Autónoma da Madeira:

 

Reis de Espanha visitaram na Madeira a Igreja da Senhora do Monte e o Cabo Girão

Visita termina com elogios de Juan Carlos ao arquipélago da Madeira

Deslocação a Porto Santo concluiu visita dos Reis de Espanha à Madeira:

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